Cultura Organizacional e Comunicação Interna em Fusões/Aquisições

sábado, 26 de setembro de 2009



Segundo dados publicados pela KPMG, "rede global de firmas independentes que prestam serviços profissionais de Audit, Tax e Advisory", entre 1998 e 2008 o volume de transações de Fusões e/ou Aquisições praticamente dobrou, passando de 351 para 663.
Nesse contexto torna-se imprescindível não somente a discussão sobre o papel da Comunicação Interna nos processos de Fusão/Aquisição, mas também o papel do profissional de Comunicação como mediador do processo de integração cultural entre as empresas. Antes de iniciarmos essa discussão, porém, necessitamos lembrar que os processos aqui abordados (Fusão e Aquisição) envolvem ambas as empresas em todos os âmbitos, especialmente no quesito Cultura Organizacional (Saiba mais clicando aqui).
Um dos papeis da Comunicação Interna é zelar pela Cultura Organizacional e garantir, por meio das ferramentas de comunicação disponíveis em cada organização, que o público interno esteja alinhado com o ato retórico da empres e seu discurso (supostamente) único.
E a pergunta que não quer calar: como lidar com a Cultura Organizacional numa Fusão/Aquisição?
Pois é justamente aí que entra o profissional de Comunicação. Quando as culturas são similares, como é o caso da fusão Itaú/Unibanco, ambas instituições brasileiras cujas culturas divergem brandamente, o trabalho de Comunicação é mais fácil; nesse cenário cabe ao profissional de Comunicação comunicar adequadamente as decisões tomadas pelo Board quanto à definição da nova Cultura (o ideal, claro, é que este profissional, que tem formação e know-how específicos no tangente ao público interno, participasse ativamente do processo de definição da nova cultura, mas isso nem sempre é uma realidade. Ainda cabe a nós, profissionais de Comunicação e mais especificamente de Relações Públicas, conquistarmos nosso espaço e nos expormos como estrategistas e não meros comunicadores).
O grande desafio da Comunicação Interna está em trabalhar o conceito de Cultura Organizacional quando as empresas que se unem contam cada qual com uma cultura particular, gerando um choque de culturas; nesse aspecto a Comunicação Interna deve ficar muito atenta pois essa "terceira cultura" formada pelas culturas de duas empresas diferentes pode gerar descontentamento e desengajamento do público interno por várias questões como salários díspares, manual de conduta e de ética divergentes, demissões em massa, etc, como é o caso da Fusão Santander/Real, cujas culturas são espanhola, de caráter mais agressivo, e holandesa, de caráter mais brando.
Em conversas com funcionários que participaram de ambas as fusões, as percepções são bastante diferentes; os funcionários do Banco Real se sentem "arredios" em relação à cultura agressiva do Santandar por estarem acostumados com a cultura mais "abrangente" do Banco Real; em contrapartida, os funcionários do Santander se sentem "aliviados" pois estão saindo de uma cultura totalmente agressiva para uma terceira que nem é branda e nem é agressiva, mas um meio termo entre ambas.
Já no caso da Fusão Itaú/Unibanco, os funcionários do Unibanco se sentem engajados em "mostrar serviço", visto que o Itaú é um banco que preza pela excelência nos processos, visando crescimento; e os funcionários do Itaú, embora não temam a cultura do Unibanco (até por esta ser "menor" que aquela, levando em consideração que Itaú era um banco "maior" que o Unibanco), temem de alguma forma devido a salários, que no Unibanco são menores; o "medo" aqui é de ser desligado da nova empresa por ter salário muito alto e poder entrar numa "redução de custos".
Como vimos, as possibilidades e dúvidas são inúmeras num processo de Fusão/Aquisição, e cabe a nós da Comunicação reduzir ao máximo o impacto cultural a fim de evitar desengajamento e, consequentemente, desmotivação, o que poderia levar a uma redução dos resultados, considerando que os funcionários são uma parte importante da grande engrenagem que é uma empresa.
Não há uma fórmula mágica ou mecânica para se evitar o referido impacto, porém, devemos usar de criatividade e as ferramentas de comunicação adequadas a fim de atingir esse objetivo.

Por Marcelo Maruoka

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